sábado, 19 de fevereiro de 2011

Criança cadáver

Um corpo estendido no chão
As pessoas passam ao largo
Não dão importância
Mesmo sendo de uma criança
Não há comoção, rotina, dirão!

Foi atingido por uma bala perdida
Quando saia do colégio, didático.
Estirado estático no chão molhado
Cercado pela guarnição à espera do rabecão.
E o povo passando ao lado
No máximo uma curiosidade mórbida, e só.

E o cadáver da criança permanece
Inocência ceifada pela violência
Mãe de todas as demências e chagas nacionais
Mas não é nossa exclusividade
Diriam os especialistas: “- É um fenômeno mundial!”.

Isto é uma verdade.
Porém, no nosso caso a raiz e a alma
São bem conhecidas:
- Corrupção, senhores na fita!
Que arrasta todos os outros embustes de crimes
Deixando-nos reféns das estatísticas fatídicas.

Ah, ia me esquecendo!
O cadáver da criança, o rabecão levou
Pra fazer um check-up no IML.
Provável primeiro e único contato com médico
Nos seus dez anos de existência.

Quanta decência!
Mas não tem problema o ESTADO paga o enterro.
Claro, a família só vai enfrentar alguma burocracia
Afinal, alguém precisa faturar os 15% do “arrego”!
Nada pessoal apenas negócio, de muitos sócios, diria.
Mas não faz mal, afinal o importante é a democracia.



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