segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Invisível

Invisível ficou de repente.
Como uma bactéria sumiu na multidão
Em seu sentimento ainda latente
Uma vertente de ódio e paixão
Já não mais existia para os outros viventes
E mesmo seus parentes há muito lhe ignoravam.

Já não lhe adiantavam os gritos ecoados, roucos
Nada mais que fizesse, tentasse adiantava
Apesar do esforço de ser achado na multidão
Já sem ilusão sabia não ser percebido, notado
E então decidido resolveu pedir em oração
Para que os santos lhe dessem outra chance, coitado!

Talvez, quem sabe, um dia lhe percebessem
E com interesse voltassem a ter em sua figura
E só então retornasse ao brilho de antes, agora sumido
E ressurgisse dos guetos sem mais frescuras
Mas isso no momento é ilusão, lhe restando
Percepção que sua imagem já não empolga.

E de amarga sobrevivência, vai vivendo
E não tendo mais como ser notado
Por mais promessas que tenha feito, e as fez
Por tudo e todos continua ignorado
E as esperanças se esvaindo com o vento
E com o tempo invisível declarado.

Adeus poesia

Vim aqui me despedir de você
Já não consigo viver contigo
Já não consigo te criar, te gerar (não me inspiro)
E neste momento, de você, me despeço.

Volto para o silencio de onde vim
De você nem a lembrança levo
Fica como herança o que já escrevi
E aqui sem saudade, de você, me despeço.

Acabou a alegria que um dia tive
De escrever sem parar, com prazer, com verve
Restando apenas o descampado da inspiração
E neste momento sem emoção, de você, me despeço.

Vou para um longo recesso, sem planos de regresso
Onde nem a aurora ou o pôr do sol me inspirarão
Sinto-me seco, triste, simplório, me recolho 
E neste momento inglório, adeus poesia, retorno à razão.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Moribundo

Pingos de chuva batem na janela,
Na boca o amargo gosto da solidão
No ar o clima pesado de uma espera
Em volta, tempo e espaço sem razão.

No âmago misto de derrota e fracasso
O fiasco como única certeza
Tristeza este sentimento letárgico (fato)
Extrema unção para amenizar os pecados.

Não há tempo para arrependimentos tardios
Um intenso frio assola a carcaça
Fatos se tornam evasivos perdendo importância
Imutáveis neste momento que se passa.

Um filme exibido pela mente, acelerado
A respiração mantendo-se rarefeita
Ultima visão que os olhos alcançam
Chega à morte, companhia derradeira.


Criança cadáver

Um corpo estendido no chão
As pessoas passam ao largo
Não dão importância
Mesmo sendo de uma criança
Não há comoção, rotina, dirão!

Foi atingido por uma bala perdida
Quando saia do colégio, didático.
Estirado estático no chão molhado
Cercado pela guarnição à espera do rabecão.
E o povo passando ao lado
No máximo uma curiosidade mórbida, e só.

E o cadáver da criança permanece
Inocência ceifada pela violência
Mãe de todas as demências e chagas nacionais
Mas não é nossa exclusividade
Diriam os especialistas: “- É um fenômeno mundial!”.

Isto é uma verdade.
Porém, no nosso caso a raiz e a alma
São bem conhecidas:
- Corrupção, senhores na fita!
Que arrasta todos os outros embustes de crimes
Deixando-nos reféns das estatísticas fatídicas.

Ah, ia me esquecendo!
O cadáver da criança, o rabecão levou
Pra fazer um check-up no IML.
Provável primeiro e único contato com médico
Nos seus dez anos de existência.

Quanta decência!
Mas não tem problema o ESTADO paga o enterro.
Claro, a família só vai enfrentar alguma burocracia
Afinal, alguém precisa faturar os 15% do “arrego”!
Nada pessoal apenas negócio, de muitos sócios, diria.
Mas não faz mal, afinal o importante é a democracia.



quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Fogo de palha

Já não te prendas a estas amarras
Saia e te espalhe, extravase
Procure o que nunca tivestes
te assanhe, te vulgarize
E de nada te arrependas.

Procure este fogo escondido
Em algum lugar de ti
Não te censure não te martirize
Não te limite, esqueça as frescuras
As convenções, as opiniões
As intromissões, as loucuras.

Seja tu como nunca fostes
Rebente tuas algemas
Teus esquemas, teus problemas
Parta para a aventura, sem censura
Sem conceito ou preconceito,
Apenas vá e te solte e te goste.

E tu então viveras mais leve
Mais solta, mais louca
E com certeza mais feliz.

Salvo pelo despertador

Forças estranhas me envolvem em brumas (nevoa rubra)
Sussurros desconexos e gritos histéricos eu escuto (reputo)
Fuzilo o olhar para onde uma imagem disforme surge (e ressurge)  
E conforme some outras imagens se formam em segundos. 

Sinto minhas pernas congeladas, paralisadas
Tento correr para qualquer destino, mas é inútil
Mantenho-me no mesmo lugar em desespero
E imóvel e indefeso vejo se aproximar um espírito sujo.

Grito mas o som de minha voz não escuto, sinto-me surdo
Relanço o olhar aflito na imagem sem nexo (perplexo)
Amplitude de medo em razão do escuro (breu impuro)
Abutres sobrevoam o céu em trevas. (nada me resta)

O desatino como ultimo companheiro (e medo)
Estou vencido neste cenário de morte (sem nexo)
E por sorte como recurso derradeiro (não lúcido)
O despertador me liberta deste pesadelo. (fala sério!)