sexta-feira, 24 de junho de 2011

Bunker

Procurando, não achei
Cai, não levantei
Insistir, não insisti
Capitulei e não lutei
Apanhei, não reagi

Transformei-me em pedra
Confundiram-me com a paisagem
Na estiagem de amizade, me recolhi
Sofrer, não sofri
Apenas me alijei da vida
Apenas neste bunker sobrevivi.

(Francisco Córdula)

Caçador de Estrelas

O campo se esgueira umedecido
Enternecido entardecer amarelado
Embrulhado pelo céu sorrateiro
Devaneios de um ser etéreo magnetizado

Envolto em brumas o cume do pico retilíneo
Em seu caminho outras montanhas avançam
E no platô a planície se esparrama
Se esgueirando o pasto inteiro feito em grama

Baixando à tarde em entidade insurgente
Deixando a cena o sol à lua um novo ato
E na metamorfose deste cenário magnânimo
Desfila rainha com seu vestido prateado

Seu véu cheio de pontos brilhantes
De tão cintilantes deixam os olhos mareados
Tanta beleza se espalha no horizonte
Não havendo como não se pegar emocionado.

(Francisco Córdula)



Mar morto

Conto em dezenas meus fracassos e fiascos
Os rastros e atrasos que a vida me impôs
Dispus-me a navegar por rotas incertas, incorretas
Por certos caminhos sem bussola me conduzindo

Perdi-me em portos nem sempre confiáveis
De certo que errei muito conscientemente  
Infeliz daqueles que nem ao menos se aventuraram
Sempre receosos e se sentindo indecentes

Capitulei na perdição deste mar revolvo
E envolto em confusões e seduções me indispus
A chegar ao destino traçado e certo
Revirando em rotas tortuosas e sem luz

Por fim que decerto arrependimento senti
Neste mar de cinzas que agora me encontro 
Mas de muito me arrependi do que não fiz
Do que desejei, hesitei e faltou-me coragem
Para que mesmo errante tentasse sempre ser feliz. 

(Francisco Córdula)

Mascaras

Em tudo e por quanto à vida nos pede
Exigências carências e mágoas indevidas
Momentos, ausências e tristezas nos cercam
Incoerências e razões muitas vezes indefinidas

Confusões e corrosões ao longo de cada minuto
Incompreensões muitas vezes injustas, impostas
Decisões muitas vezes impulsivas, nervosas
E as dores no corpo e na alma tão comuns e infinitas

Incorreções e empáfia tão comuns nestes dias
A arrogância como arma dos despreparados
Traumas muitas vezes evitáveis e não diluídos
Razões tantas vezes não transmitidas ou mal arranjadas

Mau-caratismo contemplado e elogiado
no templário dos que se acham moralistas
Expectativa de vida sendo ignorada, subfaturada
Pelos desalmados que armados fazem a morte superlativa

Os seres no poder se sentem blindados
Donos do mundo e cruéis fazem o que querem
Enquanto os simples mortais são massacrados
E execrados como insetos sem chance de sobrevivência

Gira mundo na tentativa de especular
Se ainda há lugar para os de alma pura
Que não possam ser corrompidos ou esmagados
Com a força desta disfarçada e asquerosa ditadura  

Embrulha estomago e alma dos que a tudo assistem
E insistem em não participar dos atos nefastos
Fatos muitas vezes evitáveis e simples
Tornando-se momentos trágicos e marcados

Gira mundo faz o povo acordar desta letargia
Mata a empáfia e a arrogância dos que comandam
Traz de volta tudo de bom que talvez um dia
Tenha existido nesta terra cada vez mais troncha.
(Francisco Córdula)





Trapos

Em retalhos sua vida revelada
Em detalhes que ficou no tempo
Em verdades que não foram ditas
Em mentiras levadas ao vento

Em saudade às vezes sentida
Em alegrias já não tão lembradas
Em momentos posando vadia
Em desprezo que se fez migalhas

Em desejo de emergir a vida
Em realidade a ser enfrentada
Em trapos que lhe sobraram em vestes
Em solidão companhia amarga

Em um canto da calçada os restos
Em seqüelas seu corpo cansado
Em sua visão um mundo pérfido, perdido
Em invisível seu ser transformado.

(Francisco Córdula)