quinta-feira, 24 de março de 2011

E o palhaço disse adeus

Quando o palhaço pisou no picadeiro
para seu espetáculo derradeiro
uma torrente de emoções e visões
invadiu-lhe a mente e a alma.

Transportando-lhe na máquina do tempo
para outros momentos, vasculhados no passado
e o velho palhaço então emocionado
debruçou-se em lagrimas e fincou silencio. 

Como que orando neste particular cenário
revivendo tantos espetáculos e movimentos
de uma trajetória que marcou seu tempo
e que a memória, insiste em homenagear.

E dentre tantas agruras relembradas  
tantos arroubos e  eletrizantes palhaçadas
veio a imagem de sua companheira,
sua paixão da vida inteira, trapezista faceira.

Que um dia ganhou seu coração,
e sua predileção em forma de amor
mas enfim, numa destas incompreensões da vida
ainda na flor da juventude,  a trapezista partiu
chamada que foi por Deus para sua companhia.

Mas, a vida prosseguiu apesar da dor dilacerante
e o palhaço continuou naquele picadeiro
não como antes em seu intimo,
pois  já não sentia-se completo.

Porém, o espetáculo não pode parar,
e como nas brumas de Brunel, revivendo o papel
que um dia Deus lhe concedeu:
o de palhaço de circo, continuou seu picadeiro.

Na tradução mais altruísta que um artista pode ter
tal qual um Chaplin em grandes filões
de “Grande Ditador” a Vagabundo
o palhaço reacendeu em segundos,
tantas lembranças,  tão intensas,
tão verdadeiras e densas,
que o velho coração não resistiu.

E do centro daquele picadeiro
o palhaço embarcou inteiro
para seu espetáculo definitivo
o encontro com a sua trapezista,
seu amor, da vida inteira.

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